Conectividade

Tive oportunidade de ver recentemente o 6.º episódio da 3.ª temporada do “The Wine Show”, temporada essa que na minha opinião se está a revelar uma brilhante forma de apresentar Portugal ao Mundo e, em particular, um setor de atividade que pessoalmente acredito ter ainda um potencial imenso a explorar por cá: o setor dos Vinhos. Refiro este facto, no caso, não para mencionar um exemplo Português, mas porque neste episódio é apresentada uma peça sobre produtores Americanos “alternativos”, que misturam influências que vão desde o skate “Hobo Wines”, passando pela ligação à música na “Ashes & Diamonds”, propriedade de um antigo executivo da Capitol Records, uma adega urbana em Brooklyn – a “Red Hook” – que produz os seus vinhos praticamente no coração de Nova Iorque, e que termina com o Jermaine Stone que tem um podcast onde junta dois universos aparentemente sem ligação óbvia – o Hip-Hop e os Vinhos. Foco-me nesta peça em concreto, porque para além de muito bem produzida, representa uma forma de estar diferente, num setor em geral bastante conservador, independentemente do país ou região em causa, e demonstra que mesmo em setores onde o respeito pela tradição é um ativo importante, é sempre possível evoluir na forma como se fazem as coisas, e que muitas vezes esse é o melhor caminho para o sucesso.

Pensemos num caso sobejamente conhecido, a “Apple”, se o Steve Jobs se tivesse limitado a tentar fazer o mesmo que a concorrência, mas apenas um pouco melhor, talvez a empresa já não existisse ou, no mais simpático dos cenários, teria uma existência incomparavelmente diferente daquilo que hoje conhecemos, mas não, o Steve Jobs sempre tentou fazer tudo aquilo que não era comum na indústria e, enquanto a concorrência via o mundo de forma matemática e objetiva, mas sobretudo cinzenta, ele quis ver o mundo a cores e, com isso, e sem se preocupar com o lucro fácil ou resultados imediatos, conseguiu com a sua paixão pelo design, criar algo único e absurdamente lucrativo. E, de certa forma, é aí que pretendo chegar com esta ideia de Conectividade, pois acredito que o quebrar de barreiras entre os intraindustriais / setoriais é, neste preciso momento em que nos encontramos, em 2021, absolutamente fundamental, pois os desafios socioeconómicos que hoje enfrentamos carecem mais do que nunca de novas abordagens e do cruzamento de diferentes perspetivas.

Considerando um setor que está a ser profundamente afetado pela pandemia, a Cultura, num momento em que Empresas e Marcas se encontram quase na obrigação de se tornarem em autênticas Produtoras de Conteúdos e têm necessidade de apresentar soluções verdadeiramente diferenciadas, acredito que a inclinação natural para percecionar a realidade a “cores” por parte dos artistas, pode e deve ser tida em consideração como um elemento extremamente importante naquilo em que se está a transformar a Comunicação nesta nova realidade Hiper global e Hiper ligada em que atualmente vivemos, pois acredito que existe muito que a Cultura pode oferecer ao mundo dos negócios em geral e vice-versa. Uma vez mais, destaco o exemplo Americano, porque o Hip-Hop passou em poucas décadas de um fenómeno completamente marginal, de Cultura de rua, ao topo de setores como a Moda de Luxo ou a Tecnologia, entre outros, e admito também que o mindset empreendedor que nos últimos anos é cada vez mais visível em alguns dos maiores nomes da cena nos EUA, sempre me despertou alguma curiosidade, e que tenho acompanhado com interesse o impacto que personalidades como o Virgil Abloh (Off-White / Louis Vuitton) considerado por muitos um verdadeiro polímata dos tempos modernos, Kanye West (Yeezy / GAP), Beyoncé (IVY PARK), ou o Kendrick Lamar já com um prémio Pulitzer no currículo (pgLang / Calvin Klein) tiveram e continuam a ter na Moda em particular, mas noutras áreas também, Jay-Z (Tidal / Armand de Brignac ), Drake (Toronto Raptors), sendo estes apenas alguns exemplos.

Em resumo, gostaria de definir este conceito de Conectividade, como a justaposição de ideias aparentemente opostas ou sem ligação óbvia até determinado momento, mas que na prática se poderão perfeitamente complementar. Pois parece-me urgente a adoção de práticas que fomentem uma Economia crescentemente colaborativa, basta ter em conta, por exemplo, o sucesso dos casos que refiro acima, sendo a minha perspetiva de que estamos em transição acelerada, também, para uma Economia cada vez mais experiencial, apesar de ainda estar meio Planeta em confinamento, mas desconfio que tudo aquilo que está a acontecer poderá eventualmente dar origem a uma procura, talvez sem precedentes, por novas experiências, novos conceitos, tanto online, como offline, novas formas de consumir, socializar, e trabalhar, conforme já todos percebemos, e neste novo paradigma em que as mudanças e inovações se vão sucedendo de forma estonteante, acredito que a Criatividade e a Inspiração terão obrigatoriamente um papel decisivo na criação e oferta de produtos e serviços que verdadeiramente ambicionem conquistar o seu espaço em mercados cada vez mais saturados e competitivos.

Para terminar, refiro apenas um exemplo concreto que tive a oportunidade de presenciar em 2018, uma mostra conjunta de Marcas Portuguesas em Nova Iorque, promovida por três associações setoriais – a APICCAPS (Calçado) em parceria com a ANIVEC (Vestuário / Moda) e a AORP (Joalharia) – onde me pareceu ter existido alguma da Conectividade a que me refiro, e onde foi passada uma imagem moderna, sofisticada e até ousada de Portugal, ao som de uma Banda Portuguesa contemporânea, os Best Youth, as reações lá foram de um modo geral muito positivas, sendo que este tipo de esforço conjunto foi algo que fez todo o sentido na altura, e cuja pertinência, agora mais do que nunca, é na minha opinião, absolutamente evidente, de preferência até, juntando mais setores, mais produtos, mais ideias, em novas plataformas, mas sobretudo sem medo de mostrar ao Mundo aquilo que verdadeiramente somos, a nossa singularidade, como me parece transparecer, voltando ao início, na 3.ª temporada do “The Wine Show”, filmada inteiramente por cá, que aconselho vivamente, para apreciadores e não só!

Escrito a 10 de Fevereiro de 2021 por Leonel Soutohttps://www.linkedin.com/in/leonelsouto/